A escritora Adélia Prado, que começou a publicar seus livros na década de 1970, está comemorando 40 anos de carreira. Naquela década o ambiente literário estava marcado por uma poesia herdeira do concretismo, mas segundo Evaldo Balbino, estudioso sobre a obra da escritora mineira, os poemas de Adélia indicaram um outro caminho na época.
Balbino acrescenta que outro traço importante na escrita de Adélia é a presença de uma polifonia, assumidamente comprometida em expressar as viabilidades de transitar por universos distintos. Toda voz é polifônica, mas há algumas que assumem mais isso do que outras, como Adélia faz em suas poesias. No primeiro poema do livro Bagagem, por exemplo, encontra-se o verso: Mulher é desdobrável. Eu sou. Esse desdobramento se alinha com a possibilidade de assumir diversos papéis na vida. Ou seja, a sua escrita é religiosa, profana, sagrada, é intelectual, é permeada pelo olhar da dona de casa e de uma postura de simplicidade diante do cotidiano, acrescenta.